domingo, 24 de maio de 2020

Aula 3º Ano da 1º Semana

TEMA: Os valores e as ações humanas


             “Sêneca viveu em Roma no período denominado Helenismo, datado entre o século IV a.C. até III d.C. Sabe-se que Sêneca foi um dos principais filósofos estóicos do mundo latino e o Estoicismo uma escola filosófica que teve uma longa trajetória histórica. Diz-nos Sêneca:
         Devemos igualmente mostrar docilidade e não ser escravos demais das resoluções que tomamos; ceder de boa vontade à pressão das circunstâncias e não temer mudar, seja de resolução, seja de atitude, contanto que não caiamos na versatilidade, que é de todos os caprichos o mais prejudicial à nossa tranquilidade. Porque se a obstinação é inevitavelmente inquieta e deplorável, visto que a fortuna lhe arranca a todo momento qualquer coisa, a leviandade é ainda muito mais penosa, porque ela não se fixa em nada. Estes dois excessos são funestos à tranquilidade da alma: recusar-se a toda alteração e nada suportar. (SÊNECA. Da tranquilidade da alma. São Paulo: Abril Cultural, 1973)
           Para entender melhor o que nos diz Sêneca é bom esclarecer o que seja fortuna e versatilidade. Fortuna é uma divindade romana responsável pela sorte, pelo acaso e pelo imprevisto. Os gregos a chamavam de Tique. Para a filosofia adota-se o termo acaso. O acaso é para os estóicos um erro ou ilusão, pois entendiam que tudo acontecia no mundo por necessidade racional. Portanto, para os estóicos em tudo o que acontece há uma razão, pois nada é visto como acaso.
         Observe que entre nós é comum o entendimento da fortuna como sinônimo de sorte. É bom destacar que para Sêneca o conceito de fortuna e acaso são distintos e claro que também para os demais filósofos, sobretudo os modernos e contemporâneos.
         O outro conceito que precisamos esclarecer é o de versatilidade. Observe que no texto de Sêneca possui um caráter negativo, ao passo que para nós a versatilidade é algo positivo. Cada vez mais se defende a necessidade de sermos versáteis. No caso do texto de Sêneca podemos substituir o termo versátil por volúvel e assim nos aproximarmos mais da ideia que Sêneca quer nos passar.
          Você pôde observar que a recomendação chave de Sêneca está em ‘ceder de boa vontade a pressão das circunstâncias e não temer mudar’. É interessante que Sêneca pressupõe a tranquilidade diante do mundo que nos cerca. É preciso para isso nem cair em obstinação, nem em leviandade.
             É preciso lembrar que o momento histórico em que viveu Sêneca foi um momento de ruína do Império Romano. O Império Romano estava em decadência e cada dia mais isso era perceptível aos olhos daqueles que viviam aquele momento, sobretudo os pensadores da época. É nesse contexto de ruína, decadência, que a proposição de Sêneca, uma ética individualista, ou seja, centrada no indivíduo pode ser entendida e explicada.
          O que é comum ocorrer com as pessoas em momentos de crises profundas? É a dúvida em relação ao que fazer para sobreviver a ela. E diante de tal dúvida é comum o isolamento e a falta de um ponto de referência que seja claro e que garanta tranquilidade. É comum também as pessoas se angustiarem e passarem a ser atacadas de sentimentos de medo e insegurança. Então o que Sêneca está procurando oferecer aos seus contemporâneos nada mais é que uma forma de encararem a realidade que os cerca, ou seja, a decadência que ameaça o mundo em que habitam e diante da qual não possuem mais nenhuma certeza.
         É claro que para atingir o estado de espírito que Sêneca pressupõe o uso da razão é fundamental, ou seja, o sábio é quem irá conseguir se sobressair diante das vicissitudes.
Um tirano ameaçava o filósofo Teodoro de mandar matá-lo e mesmo privá-lo da sepultura: ‘Tu podes’, disse-lhe este, ‘dar-te este prazer: existem aí 2,7 decilitros de sangue, sobre os quais tens todos os direitos; quanto à sepultura, és estranhamente ingênuo, se crês que me aflijo por apodrecer sobre ou debaixo da terra’.
           O exemplo acima demonstra uma pessoa que conseguiu chegar a um estágio de controle de suas paixões e emoções de tal forma que assim consegue superar as dificuldades com mais facilidade. Não se pode ignorar que esta capacidade esteja ligada a dimensão racional humana, uma vez que graças à mesma somos capazes de perceber o que nos ameaça.”

Atividade

1. É possível ser virtuoso em nossos dias seguindo os preceitos de Sêneca? Justifique.
2. A partir do que foi estudado do pensamento de Sêneca, o que devemos fazer para sermos felizes? Escreva um texto sobre o tema (mínimo de 10 linhas) levando em consideração nosso contexto atual de confinamento devido a uma pandemia – ou seja, um evento externo que pode nos afligir e demanda uma atitude interna e individual.
3. A partir da leitura do texto acima defina o ideal de sábio presente na filosofia de Sêneca

Aula 2º Ano da 1º Semana


Filosofia X Mito- 2º ano

“O nascimento da filosofia pode ser entendido como o surgimento de uma nova ordem do pensamento, complementar ao mito, que era a forma de pensar dos gregos. Uma visão de mundo que se formou de um conjunto de narrativas contadas de geração a geração por séculos e que transmitiam aos jovens a experiência dos anciãos. Como narrativas, os mitos falam de deuses e heróis de outros tempos e, dessa forma, misturavam a sabedoria e os procedimentos práticos do trabalho e da vida com a religião e as crenças mais antigas.
Nesse contexto, os mitos eram um modo de pensamento essencial à vida da comunidade, ao universo pleno de riquezas e complexidades que constituía a sua experiência. Enquanto narrativa oral, o mito era um modo de entender o mundo que foi sendo construído a cada nova narração. As crenças que eles transmitiam ajudavam a comunidade a criar uma base de compreensão da realidade e um solo firme de certezas. Os mitos apresentavam uma religião politeísta, sem doutrina revelada, sem teoria escrita, isto é, um sistema religioso, sem corpo sacerdotal e sem livro sagrado, apenas concentrada na tradição oral, é isso que se entende por teogonia. Vale salientar que essas narrativas foram sistematizadas no século IX por Homero e por Hesíodo no século VII a.C.
Os mitos dos quais temos notícia são formas de narrativa oral sobre os tempos primordiais, isto é, sobre a origem ou a criação, é o modo como as sociedades arcaicas representavam coletivamente a geração de todas as coisas, isto é, a sua maneira de exprimir suas experiências.
A filosofia surgiu gradualmente a partir da superação dos mitos, rompendo em parte com a teodicéia. Outras civilizações apresentaram alguma forma de pensamento filosófico, contudo, sempre ligado à tradição religiosa. A filosofia, por sua vez, abandona e supera a crença mítica e abraça a razão e a lógica como pressupostos básicos para o pensar. Então podemos dizer que a filosofia surgiu por meio da racionalização dos mitos, mas sob a influência dos conhecimentos adquiridos de outros povos gerando algo novo, ou seja, houve uma superação e transformação do antigo, gestando o novo de maneira diferente.”

Diferenças entre o Mito e a Filosofia

Mito
Filosofia
Fantástico, imaginário
Verdadeiro, real
Sobrenatural
Natural
Inquestionável
Questionável
Fantasia, incoerência
Razão, coerência
Irracional
Lógico