Aula 3º ano da 4º semana
INDIVÍDUO E
COMUNIDADE: LEI E JUSTIÇA
“É comum que numa conversa sobre política se
chegue, rapidamente, à conclusão de que ela nada tem a ver com a ética, em
outras palavras, que o poder político e suas realizações não se conduzem por
princípios e valores voltados aos interesses coletivos, mas sim, por interesses
utilitários de ordem individual ou corporativa, do tipo: ‘Mas ... o que eu
ganho votando em fulano?’, ou ‘Votem em mim e eu lhes darei privilégios ...’.
Essa é a percepção que o senso
comum da sociedade tem da política, e seria profundamente ingênuo afirmar que a
política não passa por esses descaminhos. No entanto, não é menos ingênuo e
preocupante o fato de aceitarmos tão rapidamente essa perspectiva
exclusivamente negativa da política como algo óbvio, natural e inelutável.
Em geral, as conversas sobre
política enveredam por caminhos que podem parecer interessantes, mas que no
fundo são pouco produtivos e frustrantes. Isso se dá porque, estimulados pelos
acontecimentos e pelas notícias da imprensa, fazemos questionamentos e afirmações
sobre a honestidade ou desonestidade dos políticos; sobre seus salários;
negociações supostamente ilícitas; sobre os partidos; tendências; alianças
questionáveis; sobre quem será candidato; sobre um projeto que está tramitando
e suas possíveis consequências. Quase sempre estamos reproduzindo, diga-se de
passagem, com poucos ou insuficientes dados e questionamentos, informações
veiculadas pelos jornais, pelas rádios ou telejornais, e mesmo aquelas que
circulam pela internet.”
“O ideal político se caracteriza
pela existência de uma comunidade e pela construção e manutenção de uma unidade
desta comunidade, sem que para isso ela precise submeter-se a um poder externo
(do tipo: ‘eles’ são o poder; eles fazem as leis que nós devemos obedecer). Não
se trata, contudo, de uma defesa da anarquia. É importante registrar que não é
possível a vida em comum sem que haja regras e sanções muito claras. Logo, uma
comunidade política ideal deve estabelecer suas finalidades, suas regras, suas
prioridades, enfim, deve autogovernar-se (nós somos o poder; nós fazemos as
leis que normatizam a vida na comunidade e isso constitui a nossa liberdade).
No entanto, a história testemunha o quão difícil é a consecução desse ideal do
político.
Se houvesse uma comunidade que,
em lugar de manter-se por meio de um poder distinto dela mesma (uma instância
organizada para esse fim, um chefe todo-poderoso, um grupo dirigente, uma
classe dominante, um Estado), se conservasse em sua unidade apenas por sua
própria potência, uma sociedade na qual o poder político só pudesse ser
localizado na comunidade política em seu conjunto, poderíamos dizer dessa
sociedade que ela realizou a ideia do político. (WOLFF, F. A invenção da
política. In: NOVAES, A. (org.) A crise do Estado-nação. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2003., p.31)
Wolff (2003) defende a tese de
que apenas duas sociedades conseguiram realizar o ideal político, que é a
unidade da comunidade política, sem coerção externa. Quais foram essas
sociedades? Essas sociedades foram, os atenienses da Antiguidade e os índios do
Brasil, de antes da descoberta.
Certamente você já ouviu falar da
genialidade dos gregos e da sua famosa invenção: a democracia na Atenas da
Antiguidade. Mas alguma vez já ouviu falar que os índios brasileiros,
particularmente os tupis-guaranis, também foram, de maneira diferente, bem
sucedidos na aventura de construir uma comunidade política que garantisse uma
vida boa aos seus integrantes?
Sabemos pouco sobre as
comunidades políticas dos índios brasileiros, e isso se deve, em grande parte,
às concepções eurocêntricas e etnocêntricas às quais nossa formação e nossa
cultura foram e ainda são submetidas. O antropólogo francês Pierre Clastres é
um dos poucos pesquisadores que se dedicaram a essa questão.”
Atividade
1. Qual o sentido dos termos
eurocentrismo e etnocentrismo?
2. Faça uma pesquisa e escreva
breve considerações sobre o filósofo Rousseau. (O texto não menciona Rousseau,
então coragem e dê aquela pesquisadinha básica...).